Vamos começar uma série de reflexões sobre leitura musical e os mitos relacionados à tão temida “leitura à primeira vista”.
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Interiorização da leitura
O ensino da leitura de textos, na escola, tem como objetivo, levar o indivíduo à compreensão direta do texto, através da leitura interior ou falada. No entanto, não se vê, normalmente, esta preocupação no ensino da música, e a interiorização da leitura musical é deixada de lado, mesmo sendo de fundamental importância para o fazer musical de qualidade.
Na primeira leitura de um texto literário, somente nossa visão e aparelho fonador (quando se lê em voz alta), são necessários, porém, para se interpretar uma partitura musical, é preciso ativar várias coordenações motoras para se concretizar as ideias musicais expressas na partitura.
Ou seja, não basta conhecer os signos e símbolos da linguagem musical (saber o nome das notas, a duração das figuras rítmicas etc.), é preciso desenvolver a devida coordenação motora para executar os diferentes desenhos melódicos, harmônicos e rítmicos contidos em cada partitura.
Como a criança que começa lendo letras, sílabas, palavras, frases, e consegue chegar à interpretação de um texto em uma primeira leitura do mesmo, o músico também pode (e deve!) desenvolver esta prontidão na leitura musical, possibilitando-lhe a compreensão da ideia musical, na leitura que faz da partitura, fora do instrumento.
Assim, apresentarei a vocês, em cada uma das postagens, passos para o desenvolvimento da habilidade leitora musical. Como vocês poderão ver, são exercícios e hábitos que deverão ser incorporados na sua prática pianística.
Leitura à primeira vista
Como primeira atividade, proponho um teste autoavaliativo: fazer a leitura à primeira vista de uma partitura que você tiver em casa.
1. Escolha uma obra que você não conheça (de preferência, que nunca tenha ouvido) e, também, que se adeque ao nível de sua prática instrumental, mas não escolha uma muito fácil, que você consiga tocar prontamente, nem uma muito difícil!
2. Pegue a partitura escolhida e faça a leitura da mesma, tocando-a, com as duas mãos, do início ao fim, para conhecer a música – não vale parar nos trechos mais complicados para “estudar”, o exercício é ler a música inteira!
3. Quando chegar ao fim da música, faça as seguintes reflexões:
- Como você fez a primeira leitura da partitura? Descreva os passos que seguiu (olhou a partitura antes de tocar ou foi direto ao piano; atentou para a tonalidade, o dedilhado, conseguiu tocar do início ao fim sem parar etc.).
- Você gostou da música? Por quê?
- Você considerou seu desempenho satisfatório ou não? Por quê?
- Quais dificuldades você encontrou?
- Você acha que é possível melhorar a prontidão na leitura à primeira vista ou isso só se adquire após anos de estudo do instrumento?
Agora que você já realizou a leitura à primeira vista ao piano e refletiu sobre esta ação, você poderá ouvir uma gravação da obra escolhida. Observe se a sua execução se aproximou da interpretação do pianista, se você leu todas as notas corretamente, se o andamento ficou semelhante, se as indicações de dinâmica e agógica foram realizadas etc. Se quiser, compartilhe suas observações nos comentários!
Muitas pessoas desconhecem que o tema “leitura à primeira vista” é bastante discutido no meio acadêmico e, nas próximas postagens, vou compartilhar um pouco da literatura a respeito. Fiquem ligados!
