A melodia mais antiga que se conhece tem mais de 3.400 anos e foi inscrita em uma tabuleta de argila com texto cuneiforme (tipo de escrita feita com auxílio de objetos em formato de cunha). Esta tabuleta contém a letra de um hino a Nikkal, uma deusa semítica da fertilidade, bem como as instruções para um cantor acompanhado por um sammûm de nove cordas – um tipo de harpa ou, mais provavelmente, uma lira.
Esta tabuleta com a notação foi descoberta na década de 1950, pelo arqueólogo francês Emmanuel Laroche, na região da atual Síria, e faz parte de um total de 36 fragmentos, dos quais ela é a número 6.
O arqueólogo Laroche, a assirióloga Anne Draffkorn Kilmer e a musicóloga Marcelle Duchesne-Guillemin trabalharam juntos, na década de 1970, para desvendar os textos das tabuletas, conhecidas como “Canções Hurritas”, e concluíram que uma delas apresentava métodos de afinação para a lira babilônica e outra se referia a intervalos musicais.
A notação seria basicamente um conjunto de instruções para intervalos e afinação com base em uma escala diatônica heptatônica. Nela são especificadas as 9 cordas da lira e os intervalos entre essas cordas, como se fosse uma antiga tablatura de guitarra.
A letra é muito difícil de traduzir, pois a própria língua hurrita é mal compreendida, além das lacunas existentes nas tabuletas. Uma tradução realizada por Hans-Jochen Thiel, em 1977, é considerada a mais próxima do espírito original e conta a história de uma jovem que não pode ter filhos e acha que isso se deve a seus pecados. Ela sai à noite para rezar para a deusa Nikkal, a deusa da lua e da fertilidade. A jovem leva consigo uma pequena lata com sementes ou óleo de gergelim como oferenda à deusa, para que ela a ajude com o seu desejo de ser mãe.
Uma vez que eu tenha amado a divindade, ela vai me amar em seu coração,
a oferta que trago pode cobrir totalmente o meu pecado,
trazer óleo de gergelim pode funcionar em meu nome e eu posso …
Os estéreis podem tornar férteis.
Eles podem produzir grãos.
Ela, a esposa, terá filhos do pai.
Que ela, que ainda não teve filhos, os dê à luz.
É claro que tanto a interpretação quanto a transcrição da música são altamente questionáveis e, por causa disso, existem várias versões do “Hurrian Hymn No. 6”. Abaixo vocês podem acessar a versão da música feita por Richard J. Dumbrill e a partitura referente à sua interpretação, para ilustrar como uma melodia escrita há mais de 3.400 anos poderia soar.
