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Leitura “A primeira vista” parte II

Ana Beatriz Marcondes Marra

Ana Beatriz Marcondes Marra

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Antes de iniciar minhas pesquisas neste tema, confesso que minha resposta a essa pergunta era:

“Tocar uma partitura sem nunca tê-la visto anteriormente”.

No entanto, fui percebendo que esta ação era bem mais complexa do que eu imaginava, pois envolvia o desenvolvimento de diferentes habilidades para se conseguir uma maior prontidão no envio de sinais do cérebro para os músculos, a partir da interpretação das imagens captadas pela visão – e é exatamente a prontidão desta resposta que determina a fluência da leitura musical. Assim, podemos concluir que uma boa leitura à primeira vista requer uma série de conhecimentos prévios, tanto técnicos como teóricos, que abordaremos nesta série de postagens, não perca nenhuma!
Vou começar a reflexão, trazendo um trecho da crítica escrita por Robert Schumann no jornal Allgemeine Musikalische Zeitung, de 7 de dezembro de 1831, sobre a obra “Variações sobre Là ci darem la mano op. 2”, de F. Chopin, na qual aparecem Florestan, Eusebius e Master Raro (personagens imaginários que Schumann usava para representar diferentes aspectos de sua própria natureza):

Com as palavras “Tirem os chapéus, cavalheiros! Um gênio!”, Eusebius trouxe um pedaço de música, aparentemente publicado por Haslinger. Não estávamos autorizados a olhar para o título. Eu virei as páginas distraidamente; há algo mágico sobre essa diversão velada de música sem som. Parece-me, além disso, que cada compositor tem sua própria maneira particular de organizar as notas no papel: Beethoven parece diferente de Mozart, assim como a prosa de Jean Paul difere da de Goethe. Mas agora senti como se estivesse sendo observado por olhos estranhos e fascinantes, os olhos de flores, de basiliscos, olhos de pavão, olhos de garotas. Em alguns lugares, a luz tornou-se mais clara – pensei que poderia distinguir o “Là ci darem la mano” de Mozart envolvido em uma centena de acordes. Eu vi Leporello piscando para mim, e Don Giovanni passando por uma capa branca “.

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Abaixo, segue a imagem da partitura de Chopin. Caso ela lhe fosse apresentada, sem que conhecesse anteriormente a música, você conseguiria imaginar o resultado sonoro dela com tanto detalhamento e precisão, como fizeram os personagens de Schumann? Não é fantástico poder apreciar uma música, apenas observando seu texto escrito?

Acesse aqui a belíssima interpretação de Claudio Arrau com a Orquestra Filarmônica de Londres desta página musical.

Acesse aqui a interpretação da ária de Mozart sobre a qual Chopin escreveu as variações.

Sigamos na reflexão: o ensino da leitura de textos tem como objetivo levar o indivíduo a compreender e interpretar o conteúdo de um determinado escrito, através da leitura interior. Em outras palavras, não é necessário ler um texto em voz alta para que seu conteúdo seja completamente compreendido. No entanto, esta preocupação é pouco notada no ensino da música e a interiorização da leitura musical é deixada de lado, mesmo sendo de fundamental importância para um fazer musical de qualidade, pois através dela podemos ter acesso instantâneo a novas obras do repertório de piano (e de qualquer instrumento)!

Vou deixar uma dúvida: será que existe mesmo leitura “à primeira vista”? Não perca as próximas postagens!

 

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